domingo, 28 de fevereiro de 2016

Fotografia

Se eu escrever sobre o amor,
não pense que escrevo sobre nós dois.
Não, querido.
Não há mais o lirismo,
chegou ao fim nossa poesia.

Se eu cantar o amor,
Não pense que é para que me escute.
Não, querido.
Nossas vozes desafinaram,
perderam o tom
da nossa velha canção.

Se eu sorrir quando me olhares,
verás que não é o mesmo sorriso que conhecia.
Aquele sorriso era só seu, aquela mulher era só sua.

Se eu chorar de amor,
Não pense que ainda é por você.
Não confunda, querido.

Já não somos os mesmos daquela fotografia.
Somos outros
e para outros.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Sobre o Amor

Quando as lembranças já não são tão claras e as vistas estão embaçadas, as mãos sentem-se fracas e o caminhar torna-se mais lento, o coração responde que ainda é tempo de viver o amor existe e persiste dentro de nós. O mesmo amor que outrora deixamos de expressar, ou que a rotina parecia abafar e as responsabilidades insistiam em adiar. O amor que optamos por ignorar, pois tivemos receio de sentir, exatamente por ter noção de sua intensidade. Ele sempre esteve ali, gritando em alto e bom tom, mas só agora nos acalmamos. O corpo demonstra suas fragilidades, o ego silencia, as vaidades são desconstruídas e, então, podemos ouvi-lo: “Anete, quanto tempo... Estava com saudade!”. Os olhos de ambos brilharam e não se importavam se estavam sendo observados. Ele deu um sorriso tímido de canto de boca e ela o olhava com admiração sincera. Os cabelos ruivos, o perfume e o sorriso espontâneo de Josiane lhe trouxeram a doce lembrança de sua Anete. Por um instante, percebemos que o amor não se ausentou, mesmo com o passar dos anos, e que Anete sempre esteve presente no vivo coração do Sr. Antônio.

Texto dedicado aos senhores e senhoras do Asilo São Vicente de Paula.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Hoje criei um blog, há meses eu vinha namorando a ideia. Por enquanto é apenas uma extensão dos meus cadernos de escrita. Costumo carregar um deles comigo porque sei que a qualquer hora, em qualquer lugar, me virá aquela vontade repentina e desesperada de escrever: um fato, um ato, uma pessoa que por acaso eu encontro e me encanto, o seu sorriso, a injustiça que passa o menino, o abraço dos amantes, as dores aos quais somos submetidos, os seres humanos e seus ritos. Seria uma simples vontade? Talvez uma necessidade. Se não escrevo, me inquieto, me apresso, faço um manifesto interior, sinto que há algo a ser concluído em mim. Se escrevo, sou saciada, vem a calmaria. Respiro fundo e consigo continuar a caminhada que é a vida. Quero uma água sem gás e, por favor, traga-me uma caneta. Melhor...traga apenas a água, me lembrei que agora tenho um blog e quero lhe dar uma chance

Divisão de Bens

Ao menos algumas lágrima poderiam cair dos olhos daqueles que um dia se amaram. Ao menos as lembranças dos momentos em que ele lhe abraçava para lhe dar abrigo e amor e dos olhares ternos dela, que por tantas vezes o ajudou a acreditar em si mesmo e persistir.
Os "bens" (que fizeram um ao outro) são de guarda compartilhada, mas lembraram-se apenas dos outros bens, aqueles de valor monetário. Destes, cada um perdeu a metade. Daqueles, perderam tudo.
EnFim, cada um está só.